O Amazonas FC tem um plano ousado para a reta final da Série B do Campeonato Brasileiro. Em vez de jogar na moderna Arena da Amazônia - um dos palcos
O Amazonas FC tem um plano ousado para a reta final da Série B do Campeonato Brasileiro. Em vez de jogar na moderna Arena da Amazônia – um dos palcos da Copa do Mundo de 2014 – ou no estádio Carlos Zamith, a equipe de Manaus cogita transferir suas partidas para o Afonsão, o “mais bonito” do país, fora da capital e onde o gandula é obrigado a trabalhar de canoa.
A ideia vem sendo debatida pela diretoria da Onça Pintada desde o início da temporada. A princípio, a proposta era dificultar a logística das equipes das regiões Sul e Sudeste do país e criar um clima hostil no Afonsão. Agora, no entanto, a possibilidade se justificaria como um teste para os próximos anos.
A expectativa é de que o Amazonas possa enfrentar o América-MG (35ª rodada) e o Goiás (37ª rodada) no estádio localizado no município de Careiro – distante pouco mais de 100 km da cidade de Manaus.
– Pensamos em jogar duas partidas lá no Afonsão no fim da Série B, mas a definição dependerá muito daquilo que estaremos brigando no campeonato – explica Wesley Couto, o presidente do Amazonas, em contato com o ge.
“O mais bonito do Brasil”
Inaugurado em 1992 para atender a demanda do município de 30.792 habitantes, o estádio Afonso Jacob de Souza é tratado pela população local como o “mais bonito do Brasil”.
A reportagem do ge esteve lá e constatou que não há exagero na afirmação. O Afonsão é um estádio de rara beleza, talvez único no país.
Construído ao lado do rio Castanho, a possível casa do Amazonas FC é abraçada pelo banzeiro – termo regional para a “agitação das águas amazônicas” – e envolta pela densa mata que cerca a cidade de Careiro, também conhecida como Careiro Castanho para se diferenciar da vizinha Careiro da Várzea.
Se você estiver na arquibancada e, por acaso, o jogo não estiver tão interessante assim, basta virar o pescoço para se maravilhar com um horizonte de águas escuras em contraste com a floresta verde. A imagem que muito bem poderia ser um quadro foi determinante para que o presidente do Amazonas levasse adiante a ideia de jogar lá.
Gandula de canoa
O lugar é repleto de peculiaridades. A começar pelo trabalho dos gandulas, que buscam a bola chutada para fora do gramado de canoa ou, na falta dela, a nado mesmo. A cena é curiosa e apenas é possível porque a distância do campo para a arquibancada é pequena, e o público fica praticamente colado na linha lateral.
A cobertura do Afonsão tem pouco mais de dez metros de altura, e do estádio até o rio, uma distância de aproximadamente cinco metros. Portanto, é bem provável que um chute mais forte, talvez o bicão de um zagueiro, faça com que a bola vá parar nas águas do rio Castanho.
Quando isso acontece, cabe ao gandula Vinte e Um pegar a canoa já estrategicamente posicionada ao lado do estádio para salvar a bola. Vinte e Um, na verdade, é Dione Santos, que ganhou o apelido por causa de uma má formação congênita que o fez nascer com um dedo a mais.
– Futebol é raiz, futebol é sangue. Enfrentamos essa adversidade. Como vocês veem, o nosso estádio fica à beira do rio Castanho, então várias vezes a bola vem para cá. Se não tiver a canoinha, tem que ir a nado (risos), tem que estar sincronizado na canoa ou no nado. A gente precisa estar ligado para não deixar faltar a bola lá em cima no estádio. O nosso dever é manter a bola rolando para o espetáculo.
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