É triste abrir os noticiários e perceber que maridos, filhos, pais, esposas, mães viraram números que são repetidos a cada dia. Assustamo-nos com a quantidade de pessoas que são levadas todos os dias do mundo por essa doença terrível; mas se alguém que amamos se vai, não encararíamos essa tragédia como apenas mais uma estatística no jornal.
O filósofo judeu Emmanuel Levinas viveu em uma época conturbada, principalmente para alguém que compartilhava de sua religião. O seu pensamento é crítico de todo comportamento e crença que valorizava o indivíduo subjetivo. A tal filosofia do “ser” resultou em barbáries, guerras, mortes e a não reflexão. “Afinal, se ‘eu’ não estou sendo prejudicado, por que devo me preocupar com o que se passa com o meu próximo?” Esse tipo de pensamento pode nem sempre vir à tona, mas está incrustado na nossa sociedade, já que fomos criados para tomar conta do que é nosso e proteger o que nos pertence. Isso é correto, no meu ponto de vista, até o ponto em que nos tornamos egoístas por não conseguirmos enxergar o nosso próximo de tanto que prestamos atenção a nós mesmos.
Levinas inaugurou uma filosofia ética, chamada a Ética da Alteridade, mas eu gosto de chamar isso de “empatia”. É imaginar-se no outro, como se a face deste fosse capaz de trazer à tona a consciência de que ele também é alguém, que merece ser amado e valorizado. Dessa forma, devemos encarar o nosso próximo, simpatizando com a sua dor, observando a face de cada um que é feito número.
O detalhe mais importante e bonito dessa ética é que a recíproca não precisa ser verdadeira. Mesmo que o outro transmita raiva, rancor e até mesmo ódio, a sua face precisa ser vista por nós como gentileza, bondade e amor. Levinas diz que temos a responsabilidade de ter empatia; só assim pode nascer a justiça.
Não podemos reduzir amores a números. Somos alguém. Todos nós somos.
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